No 2º Encontro Nacional de Gramicultura, promovido pela Associação Nacional Grama Legal, Antonio Carlos Zem apresentou como as tecnologias biológicas vêm se tornando um caminho sustentável e eficiente para o manejo de pragas, doenças e estresses em gramados.
Bioinsumos em alta e o protagonismo do Brasil
Logo no início da palestra, Zem destacou o crescimento acelerado do mercado de bioinsumos no Brasil. O país já ocupa posição de protagonismo global em soluções biológicas, com um mercado que ultrapassa bilhões de reais e segue em expansão, impulsionado por novas tecnologias, registros e pela adoção em grandes culturas como soja, milho e cana, além de café, citrus, algodão e trigo.
Essa mesma onda de inovação chega agora com força à gramicultura, abrindo espaço para produtos mais sustentáveis e compatíveis com as demandas atuais de qualidade, segurança e preservação ambiental.
O que são soluções biológicas
As soluções biológicas são produtos formulados a partir de microrganismos vivos (como bactérias, fungos e leveduras) ou de seus metabólitos naturais. Entre os grupos mais utilizados estão:
- Bacillus spp.
- Trichoderma spp.
- Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae
- Extratos vegetais e óleos essenciais, como o óleo de neem.
Esses organismos atuam por diferentes mecanismos: competição por espaço e nutrientes, antagonismo direto a patógenos, estímulo à resistência natural das plantas e controle de insetos por infecção e morte, entre outros.
Por que adotar biológicos na gramicultura
Zem apresentou uma série de motivos para a adoção de biológicos no manejo de gramados, tanto na produção de placas quanto no consumo em jardins, campos esportivos e áreas urbanas:
- Resistência crescente de pragas, doenças e plantas daninhas a produtos químicos.
- Menor impacto ambiental: produtos mais sustentáveis, biodegradáveis e seletivos, com menor risco para pessoas, fauna e ambiente.
- Preservação e recomposição da vida no solo, favorecendo raízes mais ativas e saudáveis.
- Melhor uso da água, ajudando a otimizar os recursos hídricos.
- Compatibilidade com as práticas de manejo já adotadas nas fazendas e grameiras.
- E, principalmente, porque funcionam quando usados de forma correta.
Desafios do manejo de gramados
A palestra organizou os principais desafios do manejo de gramados em cinco grandes eixos:
- Nematoides, que atacam raízes e comprometem o desenvolvimento;
- Fungos causadores de manchas, falhas e podridões;
- Pragas como lagartas, cigarrinhas, cochonilhas, larvas de besouros e formigas;
- Estresses hídrico e térmico, cada vez mais comuns com o clima extremo;
- Nutrição, especialmente o manejo de N, P e K de forma equilibrada.
Para cada um desses pontos, há consórcios de microrganismos capazes de atuar de forma específica, reduzindo a pressão de pragas e doenças e fortalecendo o sistema radicular e a parte aérea do gramado.
Biológicos para nematoides, fungos e pragas
No controle de nematoides como Meloidogyne, Pratylenchus e outros gêneros, bactérias do tipo Bacillus thuringiensis, B. subtilis, B. amyloliquefaciens e B. pumilus se destacam por colonizar a rizosfera e interferir no ciclo dos parasitas.
Para doenças fúngicas importantes em gramados, como as causadas por Rhizoctonia, Sclerotinia, Pythium e Fusarium, entram em cena agentes como Trichoderma asperelloides e diferentes espécies de Bacillus, que competem com o patógeno, produzem substâncias antifúngicas e estimulam as defesas naturais da planta.
Já o manejo de pragas – lagartas, cigarrinhas, larvas e cochonilhas – pode ser feito com bactérias entomopatogênicas e fungos como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, além de Pseudomonas spp. e óleo de neem. Essas soluções atuam por ingestão ou contato, levando os insetos à morte de forma seletiva e com menos impacto para inimigos naturais.
Biológicos contra estresse hídrico e térmico
Um ponto de grande interesse para produtores e paisagistas é o manejo de estresses hídrico e térmico. Zem apresentou consórcios de Bacillus aryabhattai, B. circulans e B. haynesii, capazes de:
- Produzir antioxidantes e fitormônios que ajudam a planta a lidar com o estresse;
- Formar biofilme e exopolissacarídeos que melhoram a retenção de água na rizosfera;
- Apoiar o ajuste osmótico das células, mantendo o gramado ativo por mais tempo;
- Trabalhar em conjunto com protetores solares minerais que reduzem a temperatura da folha.
O resultado é um gramado mais resiliente, que sofre menos em ondas de calor ou falta d’água.
Nutrição biológica: N, P e K com mais eficiência
A nutrição também entra na agenda biológica. Microrganismos como Azospirillum brasilense, Pseudomonas fluorescens, Methylobacterium symbioticum, Bacillus megaterium e B. subtilis ajudam a:
- Fixar nitrogênio atmosférico na rizosfera;
- Solubilizar fósforo retido em argilas, óxidos de ferro e alumínio ou matéria orgânica;
- Melhorar a disponibilidade de nutrientes para as raízes ao longo do ciclo.
Na prática, isso significa maior eficiência dos adubos aplicados e redução de perdas, com reflexo direto na cor, densidade e vigor do gramado.
Resultados em campo: manejos biológicos em gramados
Para além da teoria, a palestra trouxe exemplos práticos de áreas de produção de grama que migraram para manejos biológicos. Em uma delas, o controle de Rhizoctonia foi feito com um programa baseado em Bacillus pumilus, B. subtilis e B. amyloliquefaciens, resultando em tapetes mais uniformes e saudáveis.
Outro caso destacou o desenvolvimento de raiz, rizoma e estolão em gramados conduzidos com manejo padrão versus manejo biológico. A área conduzida com microrganismos apresentou um ganho médio de mais de 100 g de massa seca por amostra, traduzido em:
- Gramados mais resilientes ao pisoteio e ao corte;
- Placas mais resistentes e com melhor pegamento após o plantio;
- Maior quantidade de mudas disponíveis por área.
Qualidade, segurança e sustentabilidade como novo padrão
Encerrando a apresentação, Antonio Carlos Zem reforçou que, hoje, não basta produzir um gramado bonito: é preciso entregar qualidade, segurança e sustentabilidade. As soluções biológicas se encaixam exatamente nesse novo padrão, permitindo que a gramicultura avance em produtividade ao mesmo tempo em que reduz a carga química e cuida melhor do solo, da água e das pessoas.
Para produtores, paisagistas, instaladores e toda a cadeia ligada ao gramado, a mensagem é clara: biológicos não são mais o futuro, mas uma realidade em expansão, pronta para ser incorporada aos programas de manejo com suporte técnico e visão de longo prazo.
